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Construindo Experiências sem Gas com Sui Paymaster: Guia de Arquitetura e Implementação

· Leitura de 10 minutos
Dora Noda
Software Engineer

Imagine um mundo onde os usuários podem interagir com seu dApp de forma fluida, sem precisar possuir nenhum token nativo (SUI). Isso já não é mais um sonho distante. Com a Gas Station da Sui (também conhecida como Paymaster), desenvolvedores podem cobrir as taxas de gas em nome de seus usuários, removendo completamente uma das maiores barreiras para novos entrantes no Web3 e permitindo uma experiência on‑chain verdadeiramente sem atritos.

Este artigo fornece um guia completo para transformar seu dApp em uma solução sem gas. Vamos mergulhar nos conceitos centrais do Sui Paymaster, sua arquitetura, padrões de implementação e melhores práticas.

1. Contexto e Conceitos Principais: O que é uma Transação Patrocinada?

No universo blockchain, toda transação requer uma taxa de rede, ou “gas”. Para usuários acostumados às experiências fluidas do Web2, isso representa um obstáculo cognitivo e operacional significativo. A Sui resolve esse desafio ao nível do protocolo com Transações Patrocinadas.

A ideia central é simples: permitir que uma parte (o Patrocinador) pague as taxas de gas SUI pela transação de outra parte (o Usuário). Dessa forma, mesmo que o usuário não tenha SUI em sua carteira, ele ainda pode iniciar ações on‑chain com sucesso.

Paymaster ≈ Gas Station

No ecossistema Sui, a lógica de patrocínio de transações costuma ser gerida por um serviço off‑chain ou on‑chain chamado Gas Station ou Paymaster. Suas principais responsabilidades incluem:

  1. Avaliar a Transação: Recebe os dados da transação sem gas do usuário (GasLessTransactionData).
  2. Fornecer Gas: Bloqueia e aloca a taxa de gas necessária para a transação. Isso geralmente é gerido por um pool de gas composto por vários objetos SUI Coin.
  3. Gerar a Assinatura do Patrocinador: Após aprovar o patrocínio, a Gas Station assina a transação com sua chave privada (SponsorSig), certificando sua disposição em pagar a taxa.
  4. Retornar a Transação Assinada: Envia de volta o TransactionData, que agora inclui os dados de gas e a assinatura do patrocinador, aguardando a assinatura final do usuário.

Em resumo, uma Gas Station funciona como um serviço de reabastecimento para os usuários do seu dApp, garantindo que seus “veículos” (transações) possam viajar suavemente na rede Sui.

2. Arquitetura de Alto Nível e Fluxo de Interação

Uma transação sem gas típica envolve a coordenação entre o usuário, o frontend do dApp, a Gas Station e um Full Node Sui. A sequência de interação é a seguinte:

Desdobramento do Fluxo:

  1. O Usuário realiza uma ação na UI do dApp, que constrói um pacote de dados de transação sem informações de gas.
  2. O dApp envia esses dados ao Gas Station designado para solicitar patrocínio.
  3. O Gas Station verifica a validade da solicitação (por exemplo, checa se o usuário é elegível), então preenche a transação com um Gas Coin e sua assinatura, retornando a transação semipreenchida ao dApp.
  4. O Usuário visualiza os detalhes completos da transação em sua carteira (ex.: “Comprar um NFT”) e fornece a assinatura final. Essa etapa garante que o usuário mantenha consentimento e controle sobre suas ações.
  5. O dApp transmite a transação completa, contendo ambas as assinaturas, ao Full Node Sui.
  6. Após a finalização on‑chain, o Gas Station pode confirmar o evento escutando receipts ou eventos, e então notificar o backend do dApp via webhook, fechando o ciclo do processo de negócio.

3. Três Modelos Principais de Interação

Você pode usar os três modelos a seguir individualmente ou combinados, conforme as necessidades do seu negócio.

Modelo 1: Usuário Inicia → Patrocinador Aprova (Mais Comum)

Este é o modelo padrão, adequado para a maioria das interações dentro do dApp.

  1. Usuário constrói GasLessTransactionData: O usuário executa uma ação no dApp.
  2. Patrocinador adiciona GasData e assina: O backend do dApp envia a transação ao Gas Station, que aprova, anexa um Gas Coin e adiciona sua assinatura.
  3. Usuário revisa e fornece assinatura final: O usuário confirma os detalhes finais na carteira e assina. O dApp então submete a transação à rede.

Esse modelo oferece um excelente equilíbrio entre segurança e experiência do usuário.

Modelo 2: Patrocinador Inicia Airdrops/Incentivos

Ideal para airdrops, incentivos a usuários ou distribuições em lote.

  1. Patrocinador pré-preenche TransactionData + assina: O patrocinador (geralmente a equipe do projeto) constrói a maior parte da transação (ex.: airdrop de NFT para um endereço específico) e anexa sua assinatura de patrocínio.
  2. Segunda assinatura do Usuário a torna efetiva: O usuário só precisa assinar essa transação “pré‑aprovada” uma vez para que seja executada.

Isso cria uma experiência extremamente fluida. Com apenas um clique para confirmar, usuários podem reivindicar recompensas ou concluir tarefas, aumentando drasticamente as taxas de conversão de campanhas de marketing.

Modelo 3: GasData Coringa (Modelo de Linha de Crédito)

Um modelo mais flexível e baseado em permissões.

  1. Patrocinador transfere um objeto GasData: Primeiro, o patrocinador cria um ou mais objetos Gas Coin com um orçamento específico e transfere a propriedade diretamente ao usuário.
  2. Usuário gasta livremente dentro do orçamento: O usuário pode usar esses Gas Coins para pagar quaisquer transações que iniciar, respeitando limites de valor e período de validade.
  3. Gas Coin é devolvido: Quando esgotado ou expirado, o objeto Gas Coin pode ser projetado para ser destruído automaticamente ou retornado ao patrocinador.

Esse modelo equivale a oferecer ao usuário um “cartão de crédito de taxas de gas” limitado no tempo e no valor, adequado para cenários que exigem alta autonomia do usuário, como oferecer uma experiência free‑to‑play durante uma temporada de jogo.

4. Cenários de Aplicação Típicos

O poder do Sui Paymaster vai além de resolver o problema das taxas de gas; ele permite integração profunda com a lógica de negócio para criar novas possibilidades.

Cenário 1: Paywalls

Plataformas de conteúdo ou serviços dApp frequentemente exigem que usuários cumpram certos critérios (ex.: possuir um NFT VIP, alcançar um nível de membresia) para acessar funcionalidades. O Paymaster pode implementar essa lógica de forma perfeita.

  • Fluxo: O usuário solicita uma ação → o backend do dApp verifica as qualificações (ex.: propriedade de NFT) → se elegível, chama o Paymaster para patrocinar a taxa de gas; caso contrário, nega a solicitação de assinatura.
  • Vantagem: Modelo inerentemente resistente a bots e abusos. Como a decisão de patrocínio ocorre no backend, usuários maliciosos não podem contornar a verificação para drenar fundos de gas.

Cenário 2: Checkout com Um Clique

Em e‑commerce ou compras dentro de jogos, simplificar o processo de pagamento é crucial.

  • Fluxo: O usuário clica em “Comprar Agora”. O dApp constrói uma transação que inclui a lógica de negócio (ex.: transfer_nft_to_user). O usuário só precisa assinar para aprovar a ação em sua carteira, sem se preocupar com gas. A taxa de gas é coberta pelo Patrocinador do dApp.
  • Vantagem: Você pode codificar parâmetros de negócio como order_id diretamente no ProgrammableTransactionBlock, permitindo atribuição on‑chain precisa para pedidos no backend.

Cenário 3: Atribuição de Dados

Rastreamento preciso de dados é fundamental para otimização de negócios.

  • Fluxo: Ao construir a transação, escreva um identificador único (como order_hash) nos parâmetros da transação ou em um evento que será emitido na execução.
  • Vantagem: Quando o Gas Station recebe o receipt on‑chain de uma transação bem‑sucedida, ele pode extrair facilmente esse order_hash analisando o evento ou os dados da transação. Isso permite mapear com precisão mudanças de estado on‑chain a pedidos ou ações específicas no backend.

5. Esqueleto de Código (Baseado no SDK Rust)

A seguir, um trecho simplificado demonstrando os passos principais da interação.

// Assume tx_builder, sponsor, and wallet have been initialized

// Step 1: On the user or dApp side, construct a gas-less transaction
let gasless_transaction_data = tx_builder.build_gasless_transaction_data(false)?;

// Step 2: On the Sponsor (Gas Station) side, receive the gasless_transaction_data,
// fill it with a Gas Coin, and return the transaction data with the Sponsor's signature.
// The sponsor_transaction_block function handles gas allocation and signing internally.
let sponsored_transaction = sponsor.sponsor_transaction_block(gasless_transaction_data, user_address, gas_budget)?;

// Step 3: The dApp sends the sponsored_transaction back to the user,
// who signs and executes it with their wallet.
let response = wallet.sign_and_execute_transaction_block(&sponsored_transaction)?;

Para uma implementação completa, consulte o Tutorial de Gas Station na documentação oficial da Sui, que oferece exemplos de código prontos para uso.

6. Riscos e Proteções

Embora poderoso, implantar uma Gas Station em produção requer atenção cuidadosa aos seguintes riscos:

  • Equivocação (Double‑Spending): Um usuário malicioso pode tentar usar o mesmo Gas Coin em múltiplas transações paralelas, o que faria o Gas Coin ficar bloqueado pela rede Sui. Isso pode ser mitigado atribuindo um Gas Coin único por usuário ou por transação, mantendo uma blacklist e aplicando limites de taxa.
  • Gerenciamento do Pool de Gas: Em cenários de alta concorrência, um único Gas Coin de valor elevado pode se tornar um gargalo de desempenho. O serviço de Gas Station deve ser capaz de dividir automaticamente grandes SUI Coins em vários Gas Coins menores e recolhê‑los eficientemente após o uso. Provedores profissionais como a Shinami oferecem soluções gerenciadas maduras para isso.
  • Autorização e Rate Limiting: É imprescindível estabelecer políticas rígidas de autorização e limitação de taxa. Por exemplo, controlar limites de patrocínio e frequência com base em IP, endereço de carteira ou tokens de API, evitando que o serviço seja drenado por atores maliciosos.

7. Ferramentas do Ecossistema

O ecossistema Sui já disponibiliza um conjunto rico de ferramentas para simplificar o desenvolvimento e a implantação de Paymasters:

  • SDKs Oficiais (Rust/TypeScript): Incluem APIs de alto nível como sponsor_transaction_block(), reduzindo significativamente a complexidade de integração.
  • Shinami Gas Station: Serviço gerenciado tudo‑em‑um, com divisão/recolhimento automático de Gas Coins, monitoramento detalhado de métricas e notificações via webhook, permitindo que desenvolvedores foquem na lógica de negócio.
  • Enoki / Mysten Demos: A comunidade e a Mysten Labs oferecem implementações open‑source de Paymaster que podem servir como referência para construir seu próprio serviço.

8. Checklist de Implementação

Pronto para levar seu dApp à era sem gas? Confira esta lista antes de iniciar:

  • Planeje seu Fluxo de Financiamento: Defina a fonte de fundos do Patrocinador, orçamento e estratégia de reposição. Configure monitoramento e alertas para métricas chave (ex.: saldo do pool de gas, taxa de consumo).
  • Reserve Campos de Atribuição: Ao projetar os parâmetros da transação, reserve campos para identificadores de negócio como order_id ou user_id.
  • Implemente Políticas Anti‑Abuso: Autorizações estritas, limitação de taxa e mecanismos de logging são obrigatórios antes de ir ao ar.
  • Teste em Testnet: Seja construindo seu próprio serviço ou integrando um Gas Station de terceiros, realize testes de concorrência e stress em testnet ou devnet primeiro.
  • Otimize Continuamente: Após o lançamento, acompanhe taxas de sucesso, motivos de falha e custos de gas. Ajuste orçamento e estratégias com base nos dados coletados.

Conclusão

O Sui Paymaster (Gas Station) é mais do que uma ferramenta para cobrir taxas de gas dos usuários. É um paradigma poderoso que combina elegantemente uma experiência “zero SUI on‑chain” para o usuário com a necessidade de negócios de “atribuição on‑chain ao nível de ordem” dentro de uma única transação atômica. Ele abre caminho para que usuários Web2 entrem no Web3 e oferece aos desenvolvedores flexibilidade sem precedentes para personalização de negócios.

Com um ecossistema de ferramentas cada vez mais maduro e os atuais baixos custos de gas na rede Sui, nunca houve momento melhor para atualizar os fluxos de pagamento e interação do seu dApp para a era sem gas.